O MEC (Ministério da Educação) lançou, nesta quinta-feira (29), uma série de iniciativas focadas em tecnologia educacional, incluindo novas ferramentas, materiais e cursos relacionados ao uso de recursos digitais na educação. O objetivo é melhorar a formação docente e, por consequência, qualificar as práticas pedagógicas realizadas em escolas de ensino fundamental e médio.
Um dos principais destaques é a “Matriz de Saberes Digitais Docentes”, documento que define as habilidades digitais essenciais para professores. A matriz incentiva a reflexão dos docentes sobre sua didática, levando em consideração as necessidades específicas de seu contexto social e educacional.
No âmbito da gestão, o documento serve como um importante suporte para políticas educacionais e o planejamento de formações continuadas. A pasta também anunciou um edital para apoiar o desenvolvimento de novos cursos na plataforma AVAMEC, site com conteúdo gratuito para professores e estudantes.
A Matriz de Saberes Digitais, disponível neste link, está estruturada em três dimensões principais:
1. Ensino e Aprendizagem com o Uso de Tecnologias Digitais: entendimento e aplicação de princípios relacionados à integração das tecnologias digitais nas estratégias de ensino e de aprendizagem, na produção de conteúdos, na geração e gestão de dados e nas práticas inclusivas.
2. Cidadania Digital: entendimento e aplicação de princípios éticos no uso de tecnologias digitais e na convivência em ambientes digitais, com a conscientização dos impactos do uso excessivo na saúde mental e no bem-estar.
3. Desenvolvimento Profissional: entendimento e aplicação de princípios para adoção de tecnologias digitais e ambientes virtuais na formação contínua e inovação pedagógica, participação em comunidades de aprendizagem para troca de conhecimentos e uso de recursos digitais para organização e planejamento pedagógico.
A matriz está conectada a outra iniciativa: uma ferramenta de autoavaliação online, gratuita e anônima, disponível no AVAMEC. Na plataforma, os professores podem realizar um autodiagnóstico para identificar suas necessidades e receber recomendações personalizadas de cursos e recursos para seu desenvolvimento profissional.
Ao anunciar os novos projetos, Anita Gea Martinez Stefani, diretora de apoio à gestão educacional no MEC, reconhece que a inclusão de tecnologia pode ser vista como um desafio pelos educadores, mas acredita que há oportunidades para promover mudanças. “Sei que muitos professores nos assistem e que às vezes dá medo ou resistência. Pode haver preocupação ao trazer um elemento de tecnologia para a sala de aula, sem saber se isso vai piorar a aprendizagem dos alunos ou causará dispersão”, ponderou.
“Falamos tanto do uso de telas por crianças e adolescentes e dos problemas que enfrentamos com o uso excessivo e não mediado dessas tecnologias”, disse antes de defender que o material pode ser a base para um trabalho mais qualificado, de modo a apoiar o desenvolvimento dos estudantes e trazer uma transformação digital para dentro da educação básica.
“Não podemos deixar que nossos alunos se formem na educação básica do Brasil, na educação básica pública, ainda com uma formação do século passado. Precisamos apoiá-los para que, dentro da escola, eles sintam que podem desenvolver essas competências. Para isso, nossos professores precisam ser devidamente apoiados para realizar esse trabalho”, afirmou.
Já Lourival José Martins Filho, diretor de formação docente e valorização dos profissionais da educação no MEC, destacou que a aprendizagem de estratégias para o uso de tecnologia em sala de aula envolve profissão docente e também cidadania. “O uso das tecnologias digitais, das tecnologias da informação, a cidadania digital, não são anexos, são uma urgência”, afirmou.
“Precisamos nos apropriar disso para que o processo de ensino e aprendizagem esteja à altura dos desafios de hoje e do agora, para a criança brasileira, para o jovem brasileiro, cada vez mais conectado e sintonizado, possa se apaixonar pelos componentes curriculares que ensinamos. Isso pode acontecer, sobretudo, por meio das tecnologias digitais e dos saberes digitais, que todos nós devemos apropriar.”
A proposta do MEC para os saberes (termo que no documento veio a substituir o uso de “competências”) digitais docentes é baseada em duas políticas: a Pned (Política Nacional de Educação Digital) e a Política de Inovação Educação Conectada, que incentivam a formação dos professores no uso de tecnologias.
Neste processo, segundo Ana Dal Fabbro, coordenadora-geral de tecnologia e inovação da educação básica no MEC, é importante garantir a autonomia dos professores na decisão de quando e como a tecnologia será utilizada na prática docente.
“Um dos principais objetivos desse referencial é empoderar nossas professoras e nossos professores para que saibam qual é o melhor momento para usar a tecnologia em sala de aula. Quando a tecnologia será, de fato, a melhor solução para aquele desafio pedagógico? E quando outras estratégias, sem o uso de tecnologia, como livros impressos ou atividades relacionadas ao brincar, podem ser mais relevantes?”, disse a coordenadora do MEC.
“Nosso objetivo não é trazer novas obrigações para professores já tão sobrecarregados, mas sim empoderá-los para que possam usar o melhor da tecnologia na hora certa, no momento certo, dentro da sala de aula”, explicou.
O referencial de saberes digitais docentes é um conjunto estruturado de conhecimentos digitais para professores, organizado em dimensões e descritores, com foco no uso pedagógico intencional da tecnologia. Destinado a professores do ensino fundamental e médio, visa apoiar as políticas educacionais, ajudar no planejamento de formações continuadas, e incentivar os professores a refletirem sobre suas habilidades, compartilharem conhecimentos e identificarem áreas para desenvolvimento adicional.
Ao relacionar o documento à inteligência artificial, Ana demonstrou cautela e disse que o tema já está incorporado de forma transversal na matriz, alinhado à lógica de um desenvolvimento contínuo dos professores. “Em um primeiro momento, falamos do uso de tecnologias digitais mais simples, como vídeos e conteúdos digitais. À medida que o professor ganha confiança, ele pode começar a integrar a inteligência artificial no dia a dia escolar”.
Lucianna Magri, coordenadora-geral de formação de professores da educação básica do MEC, anunciou novos cursos gratuitos, online e com certificado na plataforma AVAMEC. Esses cursos estão alinhados com as matrizes de saberes. Para ajudar na escolha do curso ideal, a coordenadora sugere que os professores realizem o autodiagnóstico disponível na plataforma, que ajudará a identificar quais cursos melhor atendem às suas necessidades.
O governo federal também publicou no Diário Oficial da União desta quinta-feira um chamamento público para instituições interessadas em desenvolver cursos online gratuitos para a formação continuada de professores da educação básica.
O objetivo principal é selecionar propostas de cursos autoinstrucionais que explorem o uso de tecnologias digitais na educação, incluindo inteligência artificial e temas como cultura digital e pensamento computacional.
A seleção dos projetos ocorrerá em duas etapas: a primeira envolve a análise da documentação, adequação às normas e avaliação do mérito da proposta; a segunda etapa consiste na validação e aprovação do material do curso pela Secretaria de Educação Básica, com possibilidade de ajustes.
As regras do edital também estabelecem que as instituições selecionadas devem ceder direito de uso dos cursos ao MEC, mas mantêm a propriedade intelectual e podem comercializá-los com outras instituições. Os cursos devem ser compatíveis com os parâmetros da plataforma AVAMEC, e os custos de desenvolvimento são de responsabilidade das instituições. O prazo para envio das propostas é de 30 dias a partir da publicação do edital. O resultado preliminar será divulgado em até 90 dias após o fim das inscrições, com possibilidade de prorrogação.
Fonte: Provir