Inovação é palavra recorrente no contexto da educação superior. Cada geração traz seus códigos, o mercado e o mindset mudam constantemente, e se inovar tem sido uma ação necessária nas últimas décadas, sobretudo porque o conhecimento se expandiu, a partir desta segunda década do século 21 o desafio é exponencial, com a chegada da inteligência artificial. Tecnologias, metodologias inovadoras, bem-estar do aluno, empregabilidade, responsabilidade social e ambiental estão entre os pilares de uma universidade inovadora.
Novas tecnologias e inovação andam juntas e potencializam o alcance das IES. “Em colaboração com o departamento de educação digital e inovação educacional, promovemos a experimentação e a aplicação de novas tecnologias que nos permitem expandir o impacto de nossa instituição: blockchain, realidade virtual, metaverso e inteligência artificial”, afirma Jorge Blando Martínez, presidente da Rede de Educação Continuada para a América Latina e Europa (RECLA) e vice-reitor de educação continuada do Tecnológico de Monterrey, um setor da IES que hoje atende 150 mil estudantes – os “learners & game changers”.
É impossível conceber uma universidade inovadora que não acompanhe o avanço tecnológico. “A IA generativa personaliza o aprendizado, oferece feedback instantâneo e utiliza realidade virtual e aumentada, revolucionando a experiência educativa. Esta abordagem permite um ensino adaptativo e uma avaliação baseada em habilidades, desviando-se do tradicional sistema de notas”, aponta Wagner Sanchez, da Fiap, IES com três unidades de ensino na capital paulista e quatro polos de EAD.
Mas inovação não é sinônimo de uso de tecnologia. Uma universidade inovadora empenha-se em alicerçar outros pilares. Em sintonia com o desbloqueio de tecnologias, é preciso atender às exigências do mercado de trabalho e às expectativas dos alunos. “A felicidade do aluno é considerada um pilar fundamental, influenciando positivamente o bem-estar de professores, coordenadores e a satisfação das empresas parceiras. Por meio de uma abordagem holística, a universidade se esforça para criar um ambiente acolhedor e produtivo, onde o aluno se sente valorizado em todas as etapas de sua jornada educacional”, detalha Sanchez.
Com modelos educacionais inovadores, o compromisso não é apenas com a transmissão de conhecimento, mas também com a transformação digital e social – por meio da formação de cidadãos conscientes e responsáveis –, uma forte característica de IES inovadoras. “A adesão aos princípios ESG permeia o currículo, preparando os alunos para enfrentar desafios ambientais e sociais com soluções inovadoras.”
Janes Fidélis Tomelin, vice-presidente acadêmico da Vitru Educação-Uniasselvi, também menciona princípios hoje considerados inadiáveis. “O ambiente inclusivo, que valoriza a diversidade de ideias, culturas e perspectivas, é essencial para fomentar a criatividade e a inovação.” Ele reitera que é necessário haver integração de princípios de sustentabilidade em sua missão, currículo e operações, contemplando a responsabilidade social e ambiental.
Para Tomelin, a universidade inovadora é aquela que utiliza métodos e tecnologias atualizadas para promover a educação, a pesquisa, a extensão e o desenvolvimento das competências – técnicas e socioemocionais – dos estudantes.
“Ela se caracteriza por uma série de atributos e práticas que destacam sua postura voltada para a inovação condizente com sua identidade pedagógica”, afirma. Nela, o investimento é constante no desenvolvimento de soluções para as demandas digitais dos tempos atuais.
Há a utilização da inteligência artificial, da realidade virtual, dos algoritmos preditivos e do aprendizado de máquina.
Tomelin destaca ainda outros aspectos importantes que constituem o ambiente inovador. A aprendizagem como foco é um deles. “Uma aprendizagem que encoraja a aplicação prática do conhecimento por meio de projetos reais, muitas vezes em colaboração com ambientes profissionais, nas indústrias, organizações governamentais ou ONGs, preparando os estudantes para os desafios do mundo real”, explica.
Para isso, são necessárias parcerias estratégicas com o setor empresarial, pois “também fomentam inovação, empreendedorismo e transferência de tecnologia, garantindo que a educação esteja alinhada com as necessidades do mercado de trabalho”.
A gestão sintonizada com inovação é fundamental. Adriana Ancona de Faria, vice-diretora da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, afirma que a gestão inovadora apoia e investe na formação docente continuada, na pesquisa e nas discussões acerca de quais são os novos desafios e as pautas do futuro, “o que teremos de responder e com quem dialogar”.
Do ponto de vista pedagógico, diz Adriana, inovar significa experimentar, o que implica erros e acertos. “É preciso ter projetos pilotos e respaldar o professor, para o caso de algo dar errado. Todo aprendizado passa por tentativa e erro. A universidade não pode ter medo de errar, porque ela é o espaço de criação de conhecimento e todo mundo sabe que a ciência se desenvolve assim, em hipóteses que se confirmam ou não. Precisamos ter essa dinâmica, também, no processo pedagógico.”
No âmbito do direito, inovar é oferecer uma formação jurídica que possa dar conta das demandas do mundo na atualidade. O aluno deve ser capaz de enfrentar as complexidades dos problemas jurídicos atuais e trabalhar com as novas tecnologias que impactam o mundo do trabalho.
Não se trata de formar programadores de máquinas, “mas precisamos normatizar esse mundo, precisamos entender como os robôs funcionam, para garantir a imparcialidade, o acesso, a equidade, ou seja, cabe ao jurista continuar a defender aquilo que é o pressuposto da ordem jurídica do estado de direito. Construir soluções jurídicas no mundo atual significa dialogar com as novas tecnologias.”
Diante da IA, “o saber jurídico menos sofisticado vai sofrer muito dentro do espaço de empregabilidade. Por exemplo, saber fazer uma petição não quer dizer nada, porque o ChatGPT faz”, explica Adriana. “O espaço do trabalho jurídico está afunilando. Dependemos cada vez mais de criatividade, rigor, crítica. Vamos precisar de elementos assim para de fato fazer a diferença, se não, a máquina pode ser mais rápida e errar menos.”
A prática e a teoria
Vidal Martins, vice-reitor da PUCPR, diz que para ele, na prática, “uma universidade inovadora é aquela que coloca no centro da sua operação os destinatários da missão, aplicando todas as formas possíveis de inovação para promover experiências memoráveis para essas pessoas, tanto do ponto de vista de aprendizagem quanto de utilização dos serviços institucionais, e que se adapta de modo ágil às mudanças do meio em que está inserida”.
Na teoria, Vidal traz a definição de Clayton Christensen para elencar o que ele chamou de todas as formas possíveis de inovação. O autor define inovação como uma mudança no processo pelo qual uma organização transforma trabalho, capital, matéria-prima ou informação em produtos e serviços de valor maior. Tal transformação pode ocorrer de quatro maneiras diferentes, conforme o impacto da solução proposta no mercado e a aplicação de tecnologia.
• Excelência operacional: busca otimizar resultados a partir de melhorias constantes em processos e produtos existentes, atuando em mercado já estabelecido e sem ênfase em tecnologias inovadoras. Envolve, portanto, baixo impacto no mercado e pouco investimento em tecnologia.
• Inovação tecnológica: desenvolve e aplica tecnologias novas para transformar produtos e processos existentes. Também envolve baixo impacto no mercado, uma vez que não cria novos produtos ou serviços, mas gera impacto relevante na experiência do cliente proporcionado pela aplicação massiva de tecnologia.
• Inovação disruptiva: propõe novas ofertas de valor para o mercado, novos modelos de negócio, de relacionamento e de atendimento aos clientes atuais ou novos, gerando novas fontes de receita. Esta abordagem gera impacto relevante no mercado, visto que inova em termos de produtos e serviços, mas não requer investimentos significativos em tecnologia.
• Inovação radical: desenvolve novos negócios com base tecnológica, ou seja, entrega novos produtos e serviços a novos mercados de forma inovadora, gerando mais valor para os clientes e novas fontes de receita. Este tipo de inovação promove alto impacto no mercado e pressupõe aplicação intensiva de tecnologia na solução.
As inovadoras no FNESP
Há 26 anos, a revista Ensino Superior cumpre o propósito de trazer informações para servir de referência para o setor das instituições de ensino superior. Nos últimos anos, com as mudanças profundas nos negócios, na cultura e no comportamento das pessoas, fazer circular as informações entre as IES se torna cada vez mais necessário.
Por isso, a revista reunirá uma dezena de universidades inovadoras do país durante o Fnesp 2024, o maior fórum do ensino superior brasileiro, que acontecerá nos dias 18 e 19 de setembro, no Convention Hall, na capital paulista.
São IES que se destacam por sua capacidade de adaptação às mudanças sociais, econômicas e tecnológicas. Adotam novas tecnologias e ferramentas digitais para melhorar o processo de aprendizagem. Valorizam a colaboração e a interação entre diferentes áreas do conhecimento, promovendo a transferência de habilidades e conhecimentos entre os estudantes. Estão atentas às demandas do mercado de trabalho e também valorizam a diversidade, que provê à comunidade acadêmica perspectivas diferentes acerca da sociedade e da própria produção do conhecimento. Por isso, se constituem em fontes constantes de inspiração.
As universidades citadas nesta reportagem já estão confirmadas e estarão no Fnesp 2024 junto à equipe da revista para divulgar seus projetos e trocar experiências com os gestores presentes no evento, simultaneamente aos acontecimentos do plenário. A próxima edição da revista Ensino Superior trará o pensamento inovador das demais IES participantes.
Fonte: Revista Ensino Superior