Nos últimos anos, mulheres negras têm tido mais acesso às universidades, mas, por outro lado, permanecem estagnadas no mercado de trabalho, ocupando funções de analista ou especialista por vários anos. Essa conclusão é possível a partir do Índice de Equidade Racial Mulher Negra, pesquisa da Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial que cruzou dados do mercado de trabalho, escolaridade e empreendedorismo das profissionais nos últimos 20 anos.
Para ajudar a mudar o panorama, a entidade que promove a equidade racial no mercado corporativo desde 2022 lançou o programa gratuito "Pacto Transforma", formado por workshops culturais e vivências técnicas, virtuais e presenciais, para 31 mulheres negras de todo o Brasil.
A formação adota três pilares: formação executiva e desenvolvimento de liderança, ensino do inglês e vivências e mentorias.
Cada participante é acompanhada por mentores individuais que ocupam posições de C-level (alta liderança) no mercado, o que favorece diretamente o desenvolvimento de planos de carreira. A ideia central é acelerar as carreiras das gestoras negras.
Após seis meses, os avanços já são visíveis, na avaliação de Ednalva Moura, gerente de relações institucionais do Pacto de Promoção da Equidade Racial. "É possível identificar o compromisso individual com o autodidatismo, fortalecimento da autoestima e autoconhecimento, empoderamento feminino e apropriação da carreira", diz a líder do programa.
Essa percepção está na experiência das próprias participantes. Kely Cristina Soares é coordenadora de Relações Sociais e Previdenciárias na Mosaic Fertilizantes em Uberaba (MG). Depois de grande experiência na área de mineração, especialmente na Vale, onde atuou em situações desafiadoras como nos desastres com as barragens de Brumadinho e Mariana, seu objetivo agora é alcançar a gerência.
"Durante muito tempo, mulheres pretas, como eu, duvidavam de sua capacidade de ocupar posições de destaque em grandes empresas, apesar de serem totalmente capacitadas tecnicamente. Hoje, acredito que posso ocupar todos os espaços que desejar", afirma a assistente social de 49 anos.
Formada em Ciências Contábeis com especializações em Gestão de Projetos e ESG, Luciana Reis, de 39 anos, é sócia da área de Tax Digital Transformation e líder de DEI na RVC Consultoria Tributária e Empresarial em São Paulo. Seu objetivo é alcançar posições em Comitês e Conselhos de Administração.
"O programa nos oferece formação diferenciada. Além da possibilidade de mentoria com CEOs e líderes de mercado, temos ao nosso lado grandes empresas que oferecem a possiblidade de interação e trocas genuínas com experts do mercado corporativo", afirma.
O programa conta atualmente com a parceria da B3, Fundação Dom Cabral, Fundação Lenovo, Novonordisk, ADP Brasil e o apoio social da empresa 99 Jobs e a consultoria Integrha. Ednalva avalia que o apoio de mais empresas pode aumentar as oportunidades de desenvolvimento de carreira para essas mulheres. E cita seu próprio exemplo.
Em março, a gestora participou de intercâmbio de desenvolvimento de liderança "Mulheres na Governança", promovido pela UCLA Anderson School of Management, nos Estados Unidos. Agora, ela está multiplicando o que aprendeu para as alunas do programa.
Fonte: Estadão