A economia da atenção como mecanismo de aprendizagem na sala de aula
A banda britânica Pink Floyd tem uma música chamada “Brain damage”, que diz: “there’s someone in my head, but it’s not me” (“há alguém na minha cabeça, mas não sou eu”, em tradução livre). Esse trecho parece descrever perfeitamente um fenômeno cada vez mais preocupante entre os jovens: a falta de atenção.
Os estudantes que estão no ensino superior — e os que irão entrar futuramente — já nascem em um mundo hiperconectado e com muitas informações disponíveis o tempo inteiro na tela de um celular, computador, tablet ou televisão. A geração Z (pessoas que nasceram na primeira década do século 21) cresceu utilizando dispositivos acessíveis e consumindo uma infinidade de conteúdos por hora.
É nesse contexto que cativar a atenção dos alunos se torna um desafio em sala de aula. Até porque, querendo ou não, a realidade é que a maior parte dos estudantes não guarda o conteúdo na cabeça. Pelo contrário: esse conteúdo vai competir — e, invariavelmente, perder — com um turbilhão de informações presentes na cabeça dos jovens.
Exigir que os estudantes memorizem qualquer coisa não faz mais sentido hoje em dia. Não é à toa que um dos maiores desafios para gestores e docentes de instituições educativas é conseguir o engajamento dos estudantes, visto que este fenômeno tem impactado diretamente os indicadores de sucesso e permanência. Inclusive, há estudos que revelam os efeitos negativos da internet na mente humana.
Publicada em 2019 no World Psychiatry Journal, uma pesquisa afirma que a internet está se tornando um “estímulo supernormal para a memória, tornando todas as outras opções de descarga cognitiva (incluindo livros, amigos, comunidade) redundantes, pois são superadas pelas novas capacidades de armazenamento e recuperação de informações externas possibilitadas por a internet”.
A boa notícia é que é possível reverter esse cenário. Uma das alternativas é o uso de recursos de aprendizagem com base na economia da atenção.
O que é a aprendizagem de economia da atenção?
O conceito de economia da atenção foi criado em 1971 pelo cientista norte-americano Herbert A. Simon, ganhador do prêmio Nobel. É uma abordagem que consiste em gerenciar informações e tratar a atenção humana como um bem escasso. O termo procura explicar como a atenção pode ser capitalizada e tratada como uma mercadoria.
Há mais de 50 anos, Simon já alertava para o desafio de lidar com o infinito fluxo de informações, juntamente com a necessidade de conseguir atrair e capturar a atenção das pessoas. Diante disso, a economia da atenção surge como uma abordagem que trata da necessidade de gerenciar a quantidade de informações, por considerar a atenção humana um elemento escasso.
É importante deixar claro que um sistema de informações de grande capacidade, como as redes sociais, democratiza o acesso. Porém, cria um problema na mesma proporção: a grande quantidade de informação.
Com utilizar a aprendizagem de economia da atenção
Sabemos que estilos de vida cada vez mais digitais afetam a capacidade de manter o foco por longos períodos. Não adianta reunir e disponibilizar um conjunto grande e variado de recursos e objetos se eles não estão pensados e organizados pedagogicamente para serem capazes de chamar a atenção dos alunos.
Ao selecionar, produzir e fornecer objetos e recursos de aprendizagem com base na economia da atenção, é preciso levar em consideração que os níveis de atenção são influenciados pela motivação, humor, relevância, sentimento de pertencimento, clareza de propósito, envolvimento com a tarefa e valor percebido no tema ou material.
Por isso, entender como propor experiências de aprendizagem capazes de captar e manter a atenção e o engajamento é, mais que uma tendência educacional, uma necessidade. Um dos principais aspectos a se considerar é que o avanço pedagógico não está associado apenas à oferta de LMS ou outros ambientes no que tange ao armazenamento e disponibilização de conhecimento.
Diretora de planejamento acadêmico presencial e híbrido na Vitru Educação, Thuine Daros defende, neste texto ao Desafios da Educação, que o ideal é produzir e ofertar recursos e objetos de aprendizagem organizados, sistematizados e disponibilizados por meio de itinerários formativos. “É importante que eles levem em consideração a capacidade de aplicação da atenção dos estudantes que recebem estes inputs”, afirma.
Aqui vão algumas dicas para engajar os alunos:
- Aposte em diversos formatos: GIFs, memes, gráficos, vídeos e músicas são exemplos de recursos a serem explorados;
- Faça perguntas no início da aula: ao fim do encontro, retorne às perguntas para que os alunos possam avaliar se as suas ideias propostas inicialmente estavam corretas;
- Invista nas metodologias ativas: Aprendizagem Baseada em Projetos, gamificação e Aprendizagem Baseada em Problemas são algumas das opções mais conhecidas e de eficácia comprovada.
Como já foi dito, o uso excessivo da internet pode trazer diversos prejuízos para a saúde física e mental dos estudantes. Contudo, isso não quer dizer que as salas de aulas devam se abster do uso da tecnologia.
É importante, especialmente para o mercado de trabalho, que os alunos esteja por dentro das principais novidades do mundo digital e saiba utilizar ferramentas básicas. Em uma sociedade cada vez mais digital, uma relação equilibrada com a internet pode trazer diversas vantagens para a vida acadêmica e profissional.
Fonte: Desafios da Educação