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Autoestima e saúde mental: apenas um lado da mesma moeda

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A construção da autoestima é crucial para uma vida saudável e para o bem-estar geral. Essa é uma tarefa desafiadora especialmente no período de transição da adolescência para a vida adulta, marcado pela busca intensa de identidade, aceitação e autonomia. Esse período, embora natural, pode ser turbulento, dada a vulnerabilidade emocional e a pressão para se enquadrar em normas sociais e expectativas muitas vezes inatingíveis. A exposição constante às consequências de um mundo marcado pela evolução tecnológica, que permite comparação constante e imediata com os outros, pode minar a autoconfiança e distorcer a autoimagem.

Autoestima é a percepção que temos sobre nosso próprio valor e competência, e que interfere na forma como vivemos e construímos nossas relações sociais. Quando aprendemos a apreciar e a valorizar aquilo que somos e a forma como agimos, aceitando nossas vulnerabilidades, certamente damos passos decisivos para aumentar a qualidade de vida. No entanto, construir uma autoestima positiva constitui-se um desafio considerável. 

De acordo com Albert Bandura, a autoestima é influenciada por experiências de vida, pelo ambiente social e pela interpretação pessoal dessas experiências. Ela se desenvolve por meio do senso de competência e eficácia pessoal. O curso natural supõe que à medida que enfrentamos e superamos desafios ao longo da vida, nossa autoeficácia melhore, o que, por sua vez, influencia no aumento da nossa autoestima. A aprendizagem social, incluindo a observação dos sucessos e fracassos dos outros, também desempenha um papel importante, assim como o ambiente social, que nos fornece feedback e apoio.

No entanto, nem sempre esse fluxo segue de maneira positiva e natural. Ao longo da vida e em diversos contextos sociais, vários são os fatores que contribuem para que a construção da autoestima saudável seja, ou não, desenvolvida adequadamente. A construção de vidas perfeitas, por exemplo, exaustivamente mostradas e anunciadas todos os dias nas diversas redes sociais, pode ser um desses fatores. Versões idealizadas e editadas podem fazer com que as pessoas valorizem menos aquilo que são e têm, quando se defrontam com mundos irreais. Outro ponto importante são as pressões pela alta performance e pelo sucesso. A visão dae distância existente entre nosso potencial e aquilo que conseguimos produzir, com o que nos é exigido para alcançarmos o sucesso, pode criar sentimentos de menos valia.

Os padrões de beleza inalcançáveis, cultuados excessivamente pela mídia e pela sociedade tornam-se um grande obstáculo para a autoestima saudável. Corpos ideais, características faciais e estilo de vida idealizados podem levar a uma sensação constante de insatisfação e fracasso. Um cenário de perfeição estética, que exige um excessivo culto ao corpo, muitas vezes doentio, afasta as pessoas da valorização realista de suas características físicas e pessoais. Além disso, somos a somatória de um conjunto de fatores que não se restringem ao físico, e isso parece menos importante. É comum que questões mais graves de saúde mental se manifestem a partir dessa constante insatisfação com um físico inatingível.

A complexidade das relações sociais – cada vez mais mediadas pela tecnologia –, que temos experimentado também pode contribuir para que nossa autoestima seja afetada negativamente. As redes sociais, os aplicativos de mensagens e as plataformas de vídeo permitem que as pessoas se comuniquem instantaneamente, independentemente da distância física. No entanto, essa facilidade de conexão nem sempre se traduz em relacionamentos profundos e significativos. Conversas face a face oferecem maiores oportunidades de trocas e expressões emocionais, fundamentais para a compreensão mútua e para a construção de laços afetivos sólidos e que contribuem para entendermos mais de nós mesmos e dos outros.

Considerando as interferências citadas e a vulnerabilidade emocional natural do adolescente e do jovem adulto, será que na educação superior estamos de fato preocupados com a autoestima dos nossos estudantes e com seus reflexos para a vida deles, de forma geral? Deveríamos estar? Esse é um problema que nos compete? Ou está circunscrito apenas à família? Quando pensamos que os jovens passam anos importantes de suas vidas em nossas instituições, e que formar para a vida profissional não é apenas desenvolver competências capazes de fazer com que se destaquem no mundo do trabalho, é nosso problema, sim.

É vital que, na educação superior, sejamos capazes de fomentar ambientes propícios para promover a construção de uma autoestima saudável. Isso nos permite contribuir de forma positiva para o bem-estar e para a saúde mental desses jovens. Incentivar o envolvimento em atividades que proporcionem satisfação e senso de competência, como hobbies, esportes, ou voluntariado, também tem um impacto substancial. Essas atividades podem oferecer novas perspectivas e aumentar a sensação de pertencimento e propósito de vida.

Pensando sempre em como contribuir de forma positiva com a vida de nossos estudantes, criamos recentemente, no Centro Belas Artes de São Paulo, um programa de incentivo e promoção do voluntariado. Ele já começou a dar frutos e garante oportunidades de desenvolvimento pessoal e social, ao mesmo tempo que promove a cidadania e bem-estar coletivo. Os estudantes se envolvem com as diversas situações sociais e com pessoas que vivem em ambientes diversificados e podem, a partir disso, desenvolver competências socioemocionais valiosas como empatia e comunicação. A percepção de que são agentes de mudança capazes de impactar positivamente a vida de outros interfere diretamente na forma com que se veem no mundo, criando uma visão mais positiva de si próprios. 

Criar valores positivos na vida dos estudantes transcende a sala de aula e a educação formal, os torna pessoas melhores, mais conscientes de seus potenciais e de suas vulnerabilidades, e os coloca num lugar onde a sensibilidade pode ser utilizada para a construção de um mundo melhor, ao mesmo tempo que forma a ideia de como seres humanos valem a pena.

Fonte: Revista Ensino Superior