Bem-estar na educação
A saúde mental dos estudantes na educação superior não anda bem. Levantamentos apontam para um adoecimento psicológico significativo na comunidade discente, podendo-se falar até mesmo em “crise” ou “epidemia”. Ainda que a instituição de educação não seja um centro de saúde, ela precisa cuidar desse problema. Nesse sentido, a International Bar Association (IBA) lançou suas “Diretrizes Internacionais para o Bem-Estar na Educação Jurídica”. São diretrizes amplas, aplicáveis também a cursos não jurídicos.
O problema da saúde mental tornou-se grande demais para ser ignorado. Levantamentos da American College Health Association realizados em 2016 já apontavam que, no ano anterior à pesquisa, 60% dos estudantes sentiram ansiedade intensa e 40% apresentaram sintomas depressivos. Números bastante expressivos que também se relacionam com outra realidade, qual seja, de que estudantes da educação superior sofrem mais de problemas de saúde mental que a população em geral.
Além do problema em si, o adoecimento psicológico também afeta a concentração e o engajamento discente, comprometendo a qualidade da formação. Os efeitos são ainda mais agudos nas minorias raciais/étnicas, pois experiências de discriminação contribuem negativamente para saúde mental, aumentando, portanto, a quantidade de fatores de adoecimentos psicológicos.
Há, ainda, um crescente desconforto no convívio. Um relatório recente da Constructive Dialogue Institute revela que 45% dos estudantes têm medo de expressar suas opiniões por receio de ofender colegas ou serem “cancelados”. Do ponto de vista do sentimento de ofensa, o relatório indica que 25% dentre os estudantes universitários se sentem ofendidos pelas perspectivas compartilhadas por seus colegas. Esse cenário destaca a necessidade de promover um ambiente de convivência respeitosa e inclusiva, onde diferentes perspectivas possam ser debatidas sem medo de represálias, em que o dissenso não discriminatório é reconhecido e valorizado como um aspecto central do espaço universitário.
Ciente da gravidade do problema, a IBA elaborou suas “Diretrizes Internacionais para o Bem-Estar na Educação Jurídica”. Baseados na pesquisa e no relatório inovador da Comissão de Bem-Estar da IBA em 2021, as diretrizes compreendem dez recomendações para promover o bem-estar nos cursos de direito, a seguir adaptadas para outros cursos da educação superior:
- Reconhecer a importância do bem-estar na educação e promovê-lo ativamente;
- Abandonar a visão de que questões de bem-estar devem ser vistas como sinais de fraqueza;
- Promover a conscientização sobre as diferentes maneiras de abordar e priorizar o bem-estar na educação superior;
- Comprometer-se com mudanças duradouras e baseadas em evidências para enfrentar os desafios de bem-estar na educação superior;
- Avaliar continuamente a eficácia das mudanças e iniciativas projetadas para promover o bem-estar;
- Garantir que políticas e procedimentos dentro da educação superior reflitam a importância do bem-estar dos alunos, professores e funcionários;
- Promover um diálogo aberto entre alunos, professores e funcionários, incentivando uma cultura de confiança e inclusão;
- Comprometer-se a enfrentar problemas sistêmicos, como competitividade excessiva e falta de empatia;
- Reconhecer as interseccionalidades, incluindo os benefícios para o bem-estar ao abraçar a igualdade, diversidade e inclusão;
- E compartilhar exemplos de boas práticas em um diálogo contínuo, tanto internamente quanto externamente.
A visão da IBA sobre o assunto é principalmente estratégica: fomentar o bem-estar da comunidade universitária para garantir uma formação de qualidade e, por conseguinte, formar profissionais melhores. Suas recomendações, que não se restringem a cursos de direito, podem ser seguidas por todos. Um dos primeiros passos para a academia enfrentar esse problema, sem dúvida, é cuidar de sua comunidade.
Fonte: Revista Ensino Superior