COP30 na agenda das IES

O tema do desenvolvimento sustentável deverá estar presente na pauta das instituições de ensino superior em 2025. Além da realização no Brasil da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, o ano será marcado por polêmicas acerca do Acordo de Paris e os efeitos das mudanças climáticas. Haverá também a intensificação das demandas para cumprimento da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Esses eventos e compromissos reforçarão a necessidade de que o ensino superior participe mais ativamente dos debates sobre a redução dos danos ambientais e sua estreita relação com os aspectos sociais, econômicos, éticos e políticos. Eles estimularão as IES a cumprir seu papel de disseminar conhecimento técnico e científico, formando pessoas efetivamente comprometidas com um futuro mais sustentável.
Fortalecimento da cultura de sustentabilidade
Tiago Weizenmann, pró-reitor de ensino e extensão da Univates, considera que as IES precisarão fortalecer uma cultura organizacional que priorize a sustentabilidade. Para Weizenmann, é importante que o tema esteja no centro do planejamento estratégico “para que as instituições elejam valores que as orientem na tomada de decisões sustentáveis”. Na mesma perspectiva, Claudio Ruff Escobar, reitor da Universidade Bernardo O´Higgins (UBO), defende a implementação de políticas institucionais que promovam a conservação da biodiversidade e outros princípios dos ODS.
Francisco Elíseo Fernandes Sanches, diretor administrativo e financeiro da FHO, afirma que as IES devem estar à frente do movimento para a construção de um futuro sustentável. Nesse sentido, Paula Trevilatto, pró-reitora de pesquisa e de pós-graduação da PUCPR, defende que as IES sejam capazes de “acolher e promover a diversidade de gênero, crenças e etnias, para contribuir com uma interculturalidade global e pacífica”.
Na opinião dos especialistas consultados na nova edição do guia Tendências no ensino superior, é fundamental que o tema da sustentabilidade esteja presente nos currículos, tanto por meio de disciplina específica quanto nos demais conteúdos disciplinares ao longo da formação. “É necessário capacitar os professores para que eles possam abordar o tema de forma qualificada com os estudantes”, acrescenta Francisco Sanches.
Investimento em ações efetivas
Paulo Monteiro dos Reis, professor do Cesupa, considera o tema da crise climática inevitável. “Todos os setores da economia e a própria sociedade estão suscetíveis aos impactos climáticos, e um dos debates em 2025 será como cada IES irá contribuir com ações que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas.”
Para Priscila Bonini, da Unaerp, sustentabilidade é um tema holístico, que envolve todas as áreas de atuação das IES e das pessoas que as constituem. “As IES precisam de novas práticas de produção e consumo para alcançar um equilíbrio sustentável”, diz. Francisco Sanches reforça que as IES serão cada vez mais cobradas a adotar práticas sustentáveis em relação ao consumo de materiais e energia, tratamento de resíduos e redução da emissão de carbono.
Para Claudio Ruff Escobar, a esperança é que em 2025 as instituições desenvolvam ações de sustentabilidade e invistam em ações efetivas, citando o exemplo da UBO, que inaugurou sua primeira usina solar fotovoltaica. Paula Trevilatto também destaca que o campus deverá buscar atingir patamares de sustentabilidade ambiental, focado na redução da pegada de carbono, fomentando matrizes energéticas limpas e eficiência energética, e sendo proativo na mitigação da geração de lixo orgânico ou reciclável e na destinação e tratamento adequado de resíduos.
Segundo Tiago Weizenmann, os recentes eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo indicam a urgência dos debates sobre a questão “e as IES deverão levar em conta seus impactos sociais, econômicos e ambientais”.
Paulo Reis defende que a COP30 deverá estar na agenda das IES, mesmo que os resultados esperados não sejam promissores. “Porque somos corresponsáveis pelos danos ao meio ambiente.” E complementa lembrando que, em Belém, onde será realizada a COP30, os dias de calor extremo irão crescer 440% até 2050, “aumentando as chances de inundações, desafios logísticos e possibilidades de novas epidemias.”
Aumento dos projetos focados em sustentabilidade
Juliano Griebeler, diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Cogna, destaca que ao longo do ano será preciso falar sobre as práticas de ESG para “múltiplos stakeholders”. Nesse sentido, Francisco Sanches defende que as IES declarem seu compromisso com a sustentabilidade por meio de documentos formais, como política de sustentabilidade, missão e visão.
Para Weizenmann, chegou o momento de as IES se converterem em um instrumento de mudança intencional da sociedade. “Elas precisam assumir compromissos com o público”, na medida em que são “o lugar para criar o que não é possível pensar em outros lugares”.
Nesse sentido, os especialistas consideram que as IES devem assumir o seu papel social para que a sociedade reconheça seu valor. Paula Trevilatto afirma que as ações das IES necessitam ser cada vez mais “balizadas por princípios da ética, que intensifiquem a cooperação e as parcerias estratégicas capazes de potencializar talentos e formar pessoas que tenham senso de responsabilidade social e compromisso com os ODS”.
Para Francisco Sanches, desde que seja autêntico, esse posicionamento resulta em vantagens competitivas, como incremento na reputação e imagem. Em relação aos ODS, Sanches defende que as IES devem praticá-los de forma condizente com seu porte e área de atuação, mas a difusão destes objetivos, interna e externamente, representa a maior contribuição das IES para favorecer o seu alcance. No mesmo sentido, Trevilatto recomenda que as práticas de ODS sejam uma política institucional, “que não pode estar isolada em um projeto integrador ou disciplina.”
Juliano Griebeler aponta a necessidade de uma ação conjunta entre IES, sociedade e governos, para que tenham efeito as ações de foco social que promovem o desenvolvimento sustentável.
Avanço das práticas de ESG
Segundo Francisco Sanches, têm crescido significativamente os valores dos investimentos no mercado financeiro que levam em conta os critérios de ESG, assim como o número de empresas que emitem relatórios deste gênero. Nesse sentido, o gestor da FHO diz que a pauta ESG avança nas IES de capital aberto, que precisam comprovar que adotam ações que priorizam práticas sustentáveis e de impacto social que representem o compromisso corporativo. Ele destaca que “nas IES que mantêm cooperação com o setor produtivo da economia, relatórios de ESG também deverão entrar na agenda.” Para Juliano Griebeler, a pauta é estratégica para que as IES demonstrem as ações de impacto social que promovem a inclusão, que colaboram com a melhoria da qualidade da educação e que fomentem a conscientização ambiental de empresários, de formuladores de políticas públicas e da sociedade em geral.
Em um ano de COP30, a expectativa dos especialistas é que as empresas intensifiquem seus relatórios de ESG e que os empresários estejam mais sensibilizados a investir em educação e práticas sustentáveis. Paulo Reis aponta que “a colaboração tem ganhado espaço da competição quando se trata do contexto ESG”. Segundo ele, haverá mais colaboração entre as empresas, e os aportes financeiros em projetos de impacto ambiental demostram que as organizações se apoiam financeiramente e tecnicamente, acelerando seus resultados. Para as IES, a prioridade deve ser projetos e investimentos focados no desenvolvimento sustentável, mas será preciso acompanhar e participar dos debates e monitorar os investimentos em ESG.
Mais diálogo das práticas de sustentabilidade com a economia
“O clima e o desenvolvimento econômico são temas irmãos que possuem uma trajetória de tensões”, afirma Paulo Reis. Mas, para ele, a realização da COP30 e os acordos climáticos colocarão em pauta o tema da fonte de financiamento para os desafios locais.
Segundo os especialistas, em 2025 as tensões entre temas da sustentabilidade e da economia estarão presentes nos debates sobre queimadas, desertificação, carência de água e alimentos, entre outros efeitos da crise climática e das ações do homem que degradam o meio ambiente. Reis chama atenção para a necessidade de investimentos que reduzam as desigualdades sociais e de infraestrutura, e que mitiguem os efeitos danosos das mudanças climáticas.
Juliano Griebeler acredita que a COP30 de Belém fará com que o governo crie programas e invista em ações que apoiem a agenda de educação ambiental e de sustentabilidade, o que abrirá uma janela de oportunidades para as IES”. Paula Trevilatto indica que “haverá mais esforços das IES para formar pessoas com green skills, que tenham consciência ambiental”, embora ela destaque, também, que “as queimadas criminosas, o descaso do poder público em muitos casos e as práticas de greenwashing continuarão em 2025”. Para Priscila Bonini, “apesar de vivenciarmos todas essas tensões, caberá aos gestores de IES desenvolver a consciência ambiental” e, como defende Claudio Ruff Escobar, “será um estímulo para promovermos mais estudo, planejamento e investimentos em relação ao tema”.
Fonte: Ensino Superior