Futuro incerto exige educação climática já
Apesar de três décadas de alertas e de demonstrações esporádicas de coordenação global, muito pouco e lentamente foi feito para impedir o avanço do aquecimento do planeta. A necessidade de ação profunda e imediata é mais clara do que nunca.
Cada tonelada de redução de emissões é importante, cada investimento na construção de resiliência é importante. Devido ao extenso período durante o qual os efeitos do aquecimento global serão sentidos, há uma disparidade entre as gerações passadas, responsáveis pelas emissões, e as futuras, que viverão seus impactos. A extensão em que as gerações futuras irão vivenciar um mundo mais quente e diferente depende das escolhas de agora.
A educação e a ciência são os motores de transformação da sociedade e desempenham um papel fundamental para moldar novos caminhos para o mundo, educar cidadãos globais e entregar conhecimento e inovação à sociedade. A educação climática, em essência, tem a ver com o aprendizado diante de riscos, incertezas e mudanças rápidas. Não podemos mais prometer aos jovens uma atmosfera estável em suas vidas. Então, o que e como devemos ensinar? E como os alunos devem se engajar e aprender na preparação para esse futuro incerto?
O setor educacional pode desempenhar um papel importante na adaptação aos impactos da mudança climática. As projeções mostram que grande parte do mundo será exposta a temperaturas substancialmente mais altas, e uma literatura acadêmica robusta e em rápido crescimento está documentando as consequências negativas da mudança climática, e das altas temperaturas, sobre os alunos e a aprendizagem.
Há a necessidade de abordagens participativas, interdisciplinares, criativas e orientadas pelo afeto para a educação sobre mudanças climáticas envolvendo diretamente os jovens na resposta às complexidades científicas, sociais, éticas e políticas.
A integração da educação climática em todos os sistemas de educação formal pode ser um dos meios mais relevantes e eficazes de desenvolver capacidades para lidar com a crise ambiental. Famílias e comunidades se beneficiam quando os jovens compartilham o que aprenderam, especialmente em relação à adaptação e à mitigação. As respostas virão de soluções colaborativas de problemas e da inovação em várias dimensões das instituições e sistemas ambientais, sociais, econômicos, políticos e educacionais.
A mudança climática não é apenas um fenômeno científico. É também uma questão social complexa que exige mais do que o ensino de conteúdo. O "clima" envolve as ciências naturais, enquanto "mudança", ou educar para a mudança, impõe o envolvimento das ciências sociais e humanas. Como as crianças são particularmente vulneráveis aos efeitos de eventos extremos, os currículos escolares que incorporam o aprendizado sobre os riscos locais de desastres, e como se preparar e lidar com eles quando ocorrem, podem aumentar a resiliência dos jovens. A redução do risco de desastres com base na comunidade e centrada na criança se tornará cada vez mais parte do trabalho de professores.
A educação climática apresenta uma plataforma significativa não apenas para as vozes dos jovens, mas também para uma ativação genuína da agência política de crianças e jovens nas escolas, universidades e no domínio público. Cabe aqui o papel fundamental da pesquisa e da política educacional para descobrir maneiras de adaptar as escolas e os modos de educar os alunos para reduzir as consequências negativas da exposição aos extremos climáticos. Promover adaptação climática para jovens pode ser a maneira mais consequente do setor educacional se envolver com os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
A preparação para a crise climática supera, por necessidade, qualquer estagnação atual nos currículos em todos os níveis. No futuro, não teremos o luxo da escolha. É nos espaços curriculares e de aprendizado formal e informal que os educadores encontrarão a oportunidade de mudança.
Fonte: Folha de São Paulo