O papel do coordenador no gerenciamento do processo avaliativo

É inegável a importância que os coordenadores têm dentro de uma instituição de ensino superior (IES). Afinal, cabe a esses profissionais zelar pela excelência acadêmica e garantir o alinhamento pedagógico dos processos de ensino e aprendizagem.
No processo avaliativo — conjunto de atividades e práticas que, comumente, atribuímos apenas ao professor —, a figura do coordenador não é menos relevante. Sua atuação nos “bastidores” vai do planejamento ao acompanhamento dos resultados, incluindo processos que envolvem a padronização e o uso eficiente da tecnologia.
Neste texto, vamos entender melhor como os coordenadores atuam no gerenciamento do processo avaliativo e de que forma contribuem para que ele seja mais equilibrado e significativo para os estudantes.
A importância do coordenador para o processo avaliativo
O coordenador tem a responsabilidade de definir, junto à equipe docente, as melhores estratégias para mensurar o aprendizado dos alunos. Entre elas, está a implementação de um processo avaliativo que atenda aos objetivos institucionais e curriculares e estimule o desenvolvimento de competências essenciais para a formação integral do aluno.
Sua função é garantir a alta qualidade das avaliações, tanto em termos de conteúdo quanto de formato. Para isso, é preciso definir de forma clara os objetivos de aprendizagem que cada avaliação busca atingir, alinhando-os aos objetivos gerais do curso e da IES.
Diante da diversidade de modelos de ensino (presencial, a distância e híbrido), o coordenador também deve supervisionar a padronização do processo avaliativo — o que, na prática, significa uniformizar os critérios de correção e aplicação das provas. Só assim é possível garantir que todos os alunos, independentemente da modalidade, terão acesso às mesmas condições.
Finalmente, esse profissional deve ser capaz de adaptar o processo a outras demandas da instituição, como mudanças curriculares e diretrizes pedagógicas ou mesmo a implementação de novas tecnologias e/ou modelos de ensino. cobrir diferentes tipos de aprendizagem
Para Raphaela Novaes, coordenadora de Negócios da Plataforma A, o grande desafio dos coordenadores é assegurar que a avaliação cumpra seu verdadeiro papel pedagógico: ser um instrumento de aprendizagem, e não apenas de verificação de desempenho.
“Muitos coordenadores enfrentam dificuldades em alinhar os diferentes formatos avaliativos aos objetivos institucionais e às diretrizes regulatórias, e é preciso estar atento para o que virá com a nova regulação do EaD. Além disso, há desafios operacionais, como capacitar professores para elaborar avaliações coerentes e evitar a desmotivação dos alunos frente a métodos avaliativos mal estruturados”, afirma.
Gestão do planejamento e execução das avaliações
O coordenador é responsável por gerenciar o planejamento e a execução das avaliações, estabelecendo como e quando elas serão aplicadas, além de coordenar os recursos necessários para a sua realização. Isso inclui a definição de cronogramas e da logística envolvida, para garantir que tudo ocorra de forma organizada e sem contratempos.
Esse processo inclui uma série de tarefas, como:
Organização do cronograma
Essa é uma regra básica, pois permite que os alunos e professores se preparem com antecedência para as provas, sem sobrecarga de tarefas. O coordenador deve considerar as datas mais adequadas para a aplicação das provas, levando em conta o calendário acadêmico e as necessidades pedagógicas do curso.
Atuação integrada
O coordenador deve atuar como um elo entre os professores e as demais áreas acadêmicas da IES. Essa integração é essencial para garantir que as avaliações estejam em consonância com o conteúdo programático.
Logística de aplicação
Independentemente do formato, a logística de aplicação de provas exige uma organização eficiente. O coordenador deve gerenciar todas as etapas, incluindo a preparação de salas de aula e a verificação de acessibilidade para provas online e híbridas.
Padronização e metodologias avaliativas
Para garantir a qualidade e a equidade nas avaliações, o coordenador também deve se preocupar com a padronização e o uso de metodologias avaliativas. Isso inclui a definição de tipos de provas (objetivas, discursivas, práticas) e o estabelecimento de critérios uniformes para a correção.
“A padronização é essencial para assegurar isonomia e confiabilidade nos processos avaliativos. Quando bem aplicada, ela melhora a comparabilidade dos resultados, permitindo diagnósticos mais precisos sobre a aprendizagem”, afirma Novaes.
No entanto, a coordenadora alerta para o risco de “engessamento”, que pode limitar a personalização da avaliação. “Costumo brincar que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Isso serve para processos avaliativos também. A chave é encontrar um equilíbrio entre padronização e contextualização, garantindo qualidade sem perder a flexibilidade pedagógica.”
No ensino superior, é importante que as avaliações sejam diversificadas para evitar que o aluno dependa de uma única modalidade. O coordenador pode optar por mesclar diferentes formatos em um mesmo curso, como provas objetivas para testar o conhecimento teórico e discursivas ou práticas para a aplicação do conteúdo.
A escolha do modelo adotado vai depender de diversos fatores, mas sempre estará atrelada às competências e habilidades que os alunos precisam desenvolver. Segundo Novaes, o importante é ir além da simples medição do conhecimento adquirido.
“O cenário educacional está mudando rapidamente, e a capacidade de aprender a aprender tornou-se fundamental. Avaliações que contemplam não apenas o domínio do conteúdo, mas também habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas e adaptação a novas situações são mais alinhadas com as demandas do século XXI”, destaca.
Nesse sentido, avaliações formativas, portfólios e avaliações adaptativas ajudam a captar essa dimensão do aprendizado, permitindo que os alunos as enxerguem como parte do processo de desenvolvimento, e não apenas como um julgamento final. “Rubricas de avaliação, autoavaliação, entre outras ferramentas, também podem ajudar nesse contexto”, complementa a coordenadora.
5 fatores que devem ser levados em conta na escolha do modelo de avaliação
1. Conteúdo abordado
O primeiro passo para definir o tipo de avaliação é entender qual o objetivo do conteúdo que está sendo abordado. Se o foco é avaliar a compreensão teórica, o uso de provas objetivas é uma escolha comum, pois elas permitem medir o conhecimento dos alunos de maneira ágil e eficiente, cobrindo uma ampla gama de informações. Porém, quando o objetivo é avaliar a capacidade de argumentação, reflexão ou aplicação de conceitos em contextos específicos, avaliações discursivas são mais apropriadas, pois exigem que o aluno organize as informações e as aplique de maneira crítica.
2. Habilidades desenvolvidas
O coordenador deve levar em consideração as habilidades cognitivas que a avaliação vai mensurar. Por exemplo: se o objetivo é verificar a capacidade do aluno de aplicar conhecimentos em situações reais, o ideal é recorrer a experimentos, estudos de caso ou simulações. Essas práticas permitem que o aluno demonstre como aplica o conhecimento adquirido em tarefas que exigem raciocínio e resolução de problemas.
3. Objetivos da IES
A avaliação deve ser orientada pelos objetivos institucionais e do curso — ou seja, pelo que a IES espera que o aluno aprenda e como acredita que ele deve demonstrar esse aprendizado. Se, por exemplo, a formação valoriza a resolução de problemas complexos, deve-se optar por avaliações práticas ou baseadas em projetos. Já em cursos de caráter mais teórico, pode haver maior ênfase em provas objetivas ou discursivas.
4. Estilos de aprendizagem
Outro fator a ser considerado é a diversidade dos estilos de aprendizagem. Alguns estudantes se saem melhor em provas objetivas, enquanto outros podem ter um desempenho mais efetivo em avaliações que envolvem criatividade ou aplicação do conhecimento. O coordenador deve assegurar que o processo avaliativo considere essas diferentes formas de aprender, para que todos tenham uma chance justa de demonstrar seu domínio do conteúdo.
5. Uso da tecnologia
A escolha também deve considerar questões logísticas e tecnológicas, principalmente na educação a distância (EaD) ou em modelos híbridos. Avaliações objetivas, por exemplo, podem ser facilmente aplicadas em plataformas digitais, por meio de provas online. Já as práticas podem exigir mais planejamento, especialmente em cursos que demandam interação física ou o uso de laboratórios para realizar experimentos, como os das áreas de Saúde e Engenharia.
Transparência e objetividade nas avaliações
A transparência é fundamental para o êxito do processo avaliativo. Além de melhorar a experiência acadêmica, ela fortalece a confiança na IES, elevando sua reputação.
Para tanto, é preciso que as avaliações sejam claras e equitativas. O primeiro passo é assegurar que os professores adotem critérios claros — e amplamente divulgados aos estudantes — para a correção das provas.
Os coordenadores devem garantir que as correções sejam alinhadas aos objetivos de aprendizagem, evitando subjetividade excessiva. Uma boa forma de atingir esse objetivo é adotar ferramentas de inteligência artificial.
Já o feedback construtivo é um importante instrumento de aprendizagem, pois permite que os alunos (re) ajustem suas estratégias de estudos. Esse acompanhamento ajuda a identificar dificuldades comuns entre eles, pontos que precisam ser reforçados no ensino e até mesmo falhas nas próprias avaliações.
Nesse sentido, a utilização de metodologias baseadas em modelos consolidados, como a Teoria de Resposta ao Item (TRI) e as diretrizes do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) são essenciais para que as avaliações reflitam de forma justa o conhecimento dos alunos.
A Teoria de Resposta ao Item é um método estatístico cujo objetivo é verificar a coerência das respostas para estimar a proficiência do aluno, atribuindo pesos diferentes às questões. “Utilizada em exames como o Enem, a TRI garante que as avaliações sejam comparáveis ao longo do tempo e meçam habilidades de forma mais precisa”, aponta Raphaela Novaes.
Em relação aos dados do Enade, a especialista considera que eles oferecem um diagnóstico valioso sobre a aprendizagem dos estudantes, já que podem ser usados para muito mais do que simplesmente obter boas notas.
“O primeiro passo importante para que o Enade seja, de fato, um indicador de qualidade, é envolver os estudantes no processo. Se eles compreendem a importância da avaliação não apenas como um ranking, mas como um meio de qualificação do ensino, tendem a se engajar mais nos processos formativos”, indica.
Por que utilizar tecnologia na gestão do processo avaliativo
Se a tecnologia é uma aliada imprescindível da gestão educacional, naturalmente, isso se estende ao processo avaliativo. A automação possibilita que os coordenadores atuem de forma mais assertiva, otimizando tarefas e atingindo um nível de padronização que nenhum ser humano poderia manter.
Nesse sentido, os coordenadores não podem abrir mão de explorar ferramentas que possibilitem o gerenciamento de todo o processo — ainda mais nos contextos de ensino remoto e híbrido. “Plataformas de avaliação digital permitem maior controle sobre a aplicação e análise de resultados, avaliações adaptativas e também a diminuição do trabalho operacional envolvido no processo avaliativo, de modo que o professor possa concentrar sua energia no processo avaliativo mais personalizado”, explica Novaes.
Entre os benefícios dessas ferramentas estão a automação das etapas de aplicação e correção das provas. Além disso, recursos como análise de tempo de resposta e relatórios detalhados sobre o desempenho dos estudantes facilitam a tomada de decisões pedagógicas.
Fonte: Desafios da Educação